De olho na manipulação da mídia
Campanha da Fraternidade deste ano, realizada durante a Quaresma, destacou a vocação e a missão do cristão na sociedade. Vimos a importância da colaboração entre a Igreja e a Sociedade, proposta pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.
Jesus deseja que seus seguidores sejam “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento na massa”. Essa é a vocação e a missão de todo o batizado inserido na sociedade da qual participa, guiado pelos valores do Evangelho.
Tendo presente que na sociedade de mercado e consumo, os principais meios de comunicação são controlados por grupos e corporações com interesses econômicos e políticos bem definidos, os cidadãos precisam abrir o olho para não serem manipulados. Cada vez mais sofisticada, hoje a mídia possui quatro objetivos: informar, educar, entreter e prestar serviços, sempre de olho no interesse da maioria dos cidadãos. Isso é ensinado em qualquer curso de jornalismo ou de comunicação e é também a percepção da sociedade. No entanto, a realidade, cada vez mais, se mostra o oposto disso.
Notícia, há muito deixou de ser o que interessa para a maioria, transformando-se em mercadoria a serviço dos proprietários da mídia e de seus interesses, em geral aliados às grandes corporações. É importante destacar que a grande mídia é, em si, uma corporação. Isso se mostra visível nas Organizações Globo, no Brasil, Clarín, na Argentina, Televisa, no México, e os gigantes, que cobrem praticamente todo o planeta, News Corporation, do australiano naturalizado inglês Rupert Murdoch, e a norte-americana CNN.
São essas, basicamente, as fontes de informação do cidadão comum, esteja ele vivendo no Brasil, na Europa, na África ou nos Estados Unidos. É exatamente por isso, que este cidadão é tão mal informado. E por ser mal informado, acaba provido de convicções que interessam apenas aos poderosos de sempre.
A manipulação acontece de forma sutil, sem que nos demos conta de que estamos sendo enganados. A população em geral não sabe o que está acontecendo, e a maioria nem sequer sabe que não sabe. Uma leitura crítica dos meios de comunicação ajuda a descobrir onde e como a manipulação acontece. O linguista norte-americano Noam Chomsky elaborou uma lista de estratégias de manipulação através dos meios de comunicação de massa. É interessante conhecer algumas dessas estratégias.
A estratégia da distração
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. A determinação é “manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais”.
Criar problemas e depois oferecer soluções
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos e conquistas dos trabalhadores.
Dirigir-se ao público como crianças
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criança de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade”.
Utilizar o aspecto emocional
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.
Reforçar a autoculpabilidade
Fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, no lugar de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E, sem ação, não há revolução!
O controle do conhecimento
No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, a neurobiologia à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto em sua forma física como psicológica. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum, do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si mesmos. Assustador?
*Jaime Carlos Patias, imc,é mestre em comunicação e secretário nacional da Pontifícia União Missionária. Publicado na revista Missões, maio 2015.
Autor: Ir. Ana Cristina
Fonte: importado
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